Um extenso relatório de 48 páginas, divulgado pelo Center for Digital Democracy (CDD) em Washington, D.C., acusa a indústria de streaming de TV de operar um sofisticado aparato de vigilância comercial. Segundo o documento, as smart TVs estão sendo transformadas em dispositivos avançados de monitoramento, capazes de rastrear, coletar e segmentar informações dos espectadores de forma invasiva.
Um Sistema de Vigilância em Múltiplas Camadas
De acordo com o relatório, grandes redes de programação de streaming, fabricantes de smart TVs e empresas de medição de dados se uniram a poderosos data brokers para criar extensos dossiês digitais sobre indivíduos e famílias. Esses dossiês são formados com base em dados que vão desde informações de identidade e escolhas de visualização até padrões de consumo online e offline.
“A TV conectada replicou exatamente o ecossistema de vigilância comercial que já existe online. Eles estão trabalhando com data brokers, empresas de adtech e de medição de audiência, formando um sistema de vigilância tão complexo que nenhum indivíduo pode realmente combater,” explica Jeffrey Chester, diretor executivo do CDD.
Como as Smart TVs Capturam Dados
O relatório destaca que a vigilância está embutida diretamente nos televisores inteligentes. Utilizando tecnologias como o reconhecimento automático de conteúdo (ACR) e outros softwares de monitoramento, as smart TVs conseguem capturar uma quantidade altamente detalhada de informações sobre o que os usuários assistem. Essa coleta minuciosa, combinada com tecnologias de identidade, permite o rastreamento individual e o direcionamento de anúncios de forma hiperpersonalizada.
Jacob Hoffman-Andrews, da Electronic Frontier Foundation, ressalta:
“As pessoas assistem TV na privacidade de suas casas e esperam que ninguém as espione. Transformar a TV em um dispositivo de vigilância é uma invasão sem precedentes.”
Publicidade Interativa e a Convergência de Ecossistemas
O relatório também destaca o uso de técnicas interativas de publicidade, como a inserção de produtos virtualmente durante a programação e a criação, via IA generativa, de variações ultradirecionadas de anúncios para cada espectador. Essas práticas permitem que as empresas alinhem os anúncios com o contexto do conteúdo e até mesmo integrem elementos de redes sociais e comércio eletrônico, aumentando ainda mais o poder de coleta e análise de dados dos usuários.
Regulamentação e a Urgência de Proteção ao Consumidor
Em resposta às práticas apontadas, o CDD enviou cartas aos órgãos reguladores — incluindo a FTC, FCC e autoridades de privacidade da Califórnia —, solicitando a implementação de regras mais rigorosas para o setor de TV conectada. Os especialistas argumentam que medidas como a transparência na coleta de dados, políticas de privacidade claras e limitações na quantidade de informações coletadas sem o consentimento explícito dos usuários são essenciais para proteger a privacidade e os direitos dos consumidores.
Greg Sterling, cofundador da Near Media, afirma:
“A coleta de dados sem consentimento explícito continua sendo um problema em todas as plataformas digitais. É hora de haver uma regulamentação abrangente que imponha sanções severas para práticas abusivas.”
O relatório do Center for Digital Democracy revela uma realidade inquietante: as smart TVs estão sendo usadas para construir perfis digitais detalhados dos espectadores, levantando sérias questões de privacidade e segurança. Enquanto o setor continua a evoluir, é fundamental que reguladores, acadêmicos e defensores dos direitos digitais trabalhem juntos para estabelecer um marco regulatório que proteja os consumidores e garanta que a tecnologia sirva aos interesses do público.
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